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Por que campanhas de conscientização fracassam em mudar comportamentos nas empresas

A conscientização em segurança da informação — ou security awareness — é frequentemente tratada como um projeto pontual, uma caixa a ser marcada no checklist de compliance. Palestras, vídeos institucionais, newsletters com dicas básicas e simulações de phishing são algumas das ações mais comuns nas empresas. Mas a grande pergunta é: essas campanhas realmente mudam o comportamento dos colaboradores?

Na maioria dos casos, a resposta é não.

E não porque os materiais estejam errados — mas porque o contexto está ausente.

Awareness eficaz não nasce de um slide bem-feito. Ele nasce da coerência entre discurso e prática, da repetição contínua de valores e da construção de uma cultura onde a percepção de risco se incorpora ao cotidiano — e não apenas à memória de curto prazo.


O que é (e o que não é) awareness em segurança da informação

Awareness em SI não é decorar as regras de senhas fortes ou identificar um e-mail de phishing.

É reconhecer que qualquer pessoa — inclusive você — pode ser a porta de entrada de um ataque.

Awareness também não é:

  • Um mês temático com brindes e quizzes
  • Uma campanha criada pelo marketing para parecer moderna
  • Uma apresentação anual com estatísticas que ninguém lembra depois

Awareness eficaz é:

  • Parte da cultura organizacional
  • Incentivado e vivido pela liderança
  • Reforçado continuamente
  • Baseado em casos reais
  • Capaz de criar senso de urgência sem pânico

O problema do awareness reativo: só depois do incidente

Muitas empresas só se lembram de investir em awareness após um incidente grave: um vazamento de dados, um ataque de ransomware ou uma multa por não conformidade com a LGPD. Nessas horas, o investimento cresce, os discursos inflamam — mas a base segue frágil.

Quando a cultura de segurança não está consolidada, o susto só gera culpa e busca por culpados, não transformação.

Já empresas maduras sabem que o incidente é também momento de aprendizado coletivo. Elas tratam cada falha como uma oportunidade para reforçar, revisar e aprimorar os pilares da cultura de segurança, em vez de mascarar o problema com ações cosméticas.


Construindo uma cultura de segurança: antes, durante e depois do slide

Para que uma campanha de awareness seja eficaz, ela precisa estar inserida em um ecossistema onde:

1. A liderança dá o exemplo

Se o board compartilha senhas por WhatsApp, a mensagem é clara: regras não se aplicam para todos. Awareness começa no topo.

2. O discurso encontra a prática

Não se pode pedir que o colaborador não use a nuvem pessoal se ele não tem ferramenta corporativa para compartilhar arquivos. A coerência entre política e ferramenta é essencial.

3. A comunicação é contínua e contextual

Não adianta despejar informações técnicas sem conexão com o dia a dia. Boas campanhas usam exemplos reais, linguagem acessível e estão presentes ao longo do ano, não só em outubro.

4. O erro é usado como insumo

Simulações de phishing, por exemplo, devem gerar aprendizado — e não punição. A cultura do medo bloqueia a maturidade. A cultura do aprendizado a fortalece.


O ciclo do awareness estratégico

Um programa de awareness eficaz segue um ciclo contínuo e adaptativo:

  1. Diagnóstico da maturidade atual (com pesquisas, entrevistas e análise de incidentes)
  2. Definição de objetivos claros (como redução de cliques em phishing ou aumento de reporte de incidentes)
  3. Segmentação de público-alvo (áreas críticas, perfis de risco, cargos estratégicos)
  4. Ações recorrentes e variadas (vídeos, simulações, treinamentos presenciais, comunicações pontuais)
  5. Mensuração e retroalimentação (indicadores qualitativos e quantitativos)

O que acontece depois do susto?

Depois do incidente, há uma janela rara de atenção e abertura. É nesse momento que as empresas têm a chance de transformar o discurso em prática, de revisar políticas, ajustar controles e — acima de tudo — comunicar com transparência e empatia.

Quem aproveita esse momento com responsabilidade, fortalece a cultura. Quem tenta varrer o erro para debaixo do tapete, está apenas adiando o próximo incidente.


Conclusão: awareness não é evento, é processo

Se a sua empresa está tratando o awareness como um produto de marketing, uma exigência de compliance ou uma campanha “para mostrar trabalho”, é hora de repensar.

Segurança é cultura, e cultura não nasce de slides. Nasce de exemplos, decisões coerentes e repetição estratégica.

E quando o susto vier — porque cedo ou tarde ele vem —, é essa cultura que vai determinar se a empresa vai aprender e evoluir, ou repetir os mesmos erros com um novo PowerPoint.

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