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Introdução: O susto como gatilho

“Depois do que aconteceu, agora é prioridade.”

Essa é uma frase que se repete em reuniões após ataques cibernéticos. Empresas que negligenciavam a segurança, de repente, mobilizam orçamentos, contratam consultorias e pressionam times internos para reverter um cenário crítico.

Mas por que só depois do susto?

A resposta passa por cultura, visão de negócio, orçamento, comunicação e — principalmente — pela ilusão de que o risco cibernético é um problema dos outros.


A falsa sensação de segurança

A ausência de incidentes é frequentemente confundida com maturidade. O pensamento é simples (e perigoso): “Nunca fomos atacados, então estamos fazendo certo.”

Essa lógica ignora um fato básico: ataques bem-sucedidos geralmente não são descobertos de imediato. Muitas invasões permanecem dias, semanas ou meses dentro da rede antes de serem detectadas — isso quando são detectadas.

Além disso, a superfície de ataque muda o tempo todo. Aquilo que funcionava em 2020 pode ser obsoleto em 2025. Ignorar isso é como dirigir sem olhar o retrovisor… e sem saber para onde vai.


Casos que viram escola (da forma mais dura possível)

Veja alguns exemplos reais e recorrentes:

  • Empresa que operava com VPN exposta sem MFA. Resultado: credenciais vazadas na dark web, acesso remoto ao ambiente e ransomware em toda a rede.
  • Organização com usuários privilegiados sem controle de acesso mínimo. Um funcionário insatisfeito exportou milhares de documentos críticos pouco antes de sair da empresa.
  • Companhia que nunca testou seu backup. O restore falhou, e a perda de dados foi permanente. O prejuízo? Incalculável.

Em todos esses casos, o discurso pós-incidente foi o mesmo: “A gente sabia que precisava cuidar disso, mas sempre deixava para depois.”


O ciclo da reatividade

O ciclo é previsível:

  1. Negligência por comodidade ou falta de pressão.
  2. Incidente de segurança com impacto relevante.
  3. Correria para mitigar, conter e apagar incêndios.
  4. Investimento emergencial, contratos apressados, mudanças forçadas.
  5. Após meses, tudo volta ao “normal”.

O pior: muitas empresas voltam a cortar o orçamento de segurança depois que a crise esfria. É como reconstruir a casa e tirar o alarme assim que o ladrão vai embora.


Por que isso acontece?

Algumas razões frequentes:

  • Segurança ainda é vista como custo, não como valor.
  • Falta de alinhamento entre TI, segurança e negócio.
  • Pressão por entregas e resultados que sufoca temas “estruturantes”.
  • Ausência de métricas claras que traduzam risco em linguagem executiva.
  • Desconhecimento sobre os riscos reais (ou sua probabilidade).

Sem uma visão estratégica e integrada, a segurança acaba sendo delegada à área técnica — e empurrada para o final da fila de prioridades.


Prevenir é mais barato, mais eficaz e mais sustentável

Investir em segurança antes do susto custa menos e entrega mais valor.

Prevenção envolve:

  • Políticas e processos claros.
  • Treinamento contínuo.
  • Monitoramento ativo e resposta a incidentes.
  • Segmentação de redes e gestão de privilégios.
  • Backup testado e plano de contingência.
  • Avaliações regulares de risco.

O resultado? Menos vulnerabilidades, mais resiliência, mais confiança dos clientes e menos pânico nas crises.


O papel da liderança: sair do discurso e assumir responsabilidade

A transformação começa no topo. Empresas que levam segurança a sério não esperam pelo susto. Elas criam cultura, governança, orçamento e rituais de priorização.

Líderes maduros sabem que:

  • Segurança é um fator de continuidade do negócio.
  • A reputação digital é ativo sensível e frágil.
  • Investir em prevenção preserva valor a longo prazo.
  • Os riscos são compartilhados entre todas as áreas.

Conclusão: Você quer aprender com o erro dos outros ou com o seu?

Esperar pelo susto é como ignorar o freio porque o carro ainda não bateu. Em segurança, a pergunta não é “se”, mas “quando”.

A maturidade começa quando a empresa decide agir antes da dor, com visão de risco, responsabilidade compartilhada e planejamento consistente.

A escolha é sua: aprender pela reflexão — ou pela crise.

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