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Há um erro silencioso que muitas empresas cometem quando buscam fortalecer a segurança da informação: confundir controle com cultura.

No papel, tudo parece funcionar. A organização possui firewalls modernos, antivírus corporativo, bloqueio de portas USB, autenticação multifator, políticas de acesso e manuais de boas práticas. Os controles estão ativos. Os relatórios de conformidade estão atualizados. Mas, quando acontece um incidente, a causa está quase sempre em comportamentos humanos.

Essa contradição aponta para um problema mais profundo: não basta implementar controle — é preciso cultivar uma cultura de segurança.


1. O que é controle, afinal?

Controle é tudo aquilo que pode ser especificado, configurado, auditado.
É o conjunto de medidas técnicas e administrativas voltadas a reduzir riscos.
Firewalls, segregação de rede, políticas de backup, logging, bloqueio de aplicações, tudo isso são controles.

Eles são essenciais. Mas são insuficientes.

Controles operam no plano do comportamento imposto: o que o usuário pode ou não pode fazer, segundo regras do sistema.


2. E o que é cultura de segurança?

Cultura não pode ser imposta — ela precisa ser vivida.
Cultura é o alinhamento de valores, crenças e comportamentos compartilhados por todos, da liderança ao estagiário.

Em uma empresa com cultura de segurança:

  • As pessoas entendem o “porquê” por trás das regras.
  • A segurança não é vista como obstáculo, mas como parte da entrega.
  • Há um senso coletivo de responsabilidade, mesmo quando não há supervisão direta.

3. Exemplos práticos: controle sem cultura

  • Uma empresa bloqueia o acesso a drives externos, mas os funcionários usam seus próprios e-mails pessoais para enviar arquivos.
  • Um sistema exige senhas fortes, mas os colaboradores as anotam em post-its colados no monitor.
  • A TI implementa MFA, mas os usuários compartilham tokens de autenticação entre si “para agilizar”.

O que essas situações mostram? Que o controle técnico existe, mas a cultura não foi construída.


4. Por que essa diferença importa?

Porque cultura é o que sustenta a segurança em situações não previstas pelos controles.

  • Quando surge um ataque de engenharia social,
  • Quando alguém precisa decidir entre “agilizar” ou “seguir o processo”,
  • Quando um fornecedor externo acessa sistemas críticos…

Nessas horas, a maturidade cultural é o que determina se a resposta será segura — ou se a brecha vai acontecer.


5. Construir cultura dá trabalho — mas é isso que diferencia empresas resilientes

Cultura não nasce de uma campanha de awareness isolada.
Ela precisa de:

  • Patrocínio genuíno da liderança;
  • Integração com os valores da organização;
  • Educação contínua, e não apenas treinamento pontual;
  • Diálogo aberto sobre riscos, aprendizados e falhas.

Além disso, a área de Segurança da Informação precisa estar presente na conversa de negócio, e não apenas no suporte técnico. Segurança deve ser tratada como estratégia, não como custo.


6. Segurança reativa ou estratégica: o que você está construindo?

Empresas que operam apenas com base em controle vivem no modo reativo.
Apagam incêndios, lidam com usuários frustrados, gastam energia em microgestão.
E, muitas vezes, se surpreendem com incidentes que “ninguém previu”.

Já aquelas que constroem cultura colhem benefícios mais amplos:

  • Redução real de riscos, inclusive os não documentados;
  • Aumento da confiança de clientes, parceiros e investidores;
  • Menor desgaste com auditorias e maior prontidão para certificações;
  • Maior engajamento interno e retenção de talentos.

Conclusão: você controla ou cultiva?

A pergunta que toda liderança deveria se fazer não é:
“Quais controles implementamos?”
Mas sim:
“Qual comportamento estamos incentivando — consciente ou inconscientemente?”

Cultura é o alicerce invisível que sustenta a segurança no longo prazo.
Sem ela, os controles são cascas frágeis.
Com ela, até mesmo as falhas técnicas encontram barreiras humanas de proteção.

E na sua empresa? A segurança é imposta… ou vivida?

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