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Ao longo da minha trajetória profissional, tive a oportunidade de apoiar diversas empresas em momentos críticos de sua jornada em Segurança da Informação. Um padrão claro se repete: muitas organizações iniciam suas operações digitais sem uma base mínima de segurança, e por muito tempo operam no improviso — até que um incidente, uma auditoria ou uma demanda do mercado as força a mudar.

Improviso, aqui, não é apenas falta de ferramenta. É ausência de critério. É conceder acessos sem revisão, manter servidores expostos por desconhecimento, adiar correções críticas porque “não deu tempo”. É confundir resposta com planejamento.

Em uma das experiências mais marcantes, fui chamado inicialmente para revisar contratos de segurança. Mas bastaram algumas conversas com o time técnico e a área de TI para perceber que o problema era estrutural: não havia governança, os processos eram orais, e as decisões eram tomadas com base no senso comum — ou no susto.

🧩 O que encontrei

O retrato era alarmante, mas infelizmente comum:

  • Firewalls e roteadores com configurações padrão de fábrica.
  • Inventário de ativos inexistente ou desatualizado.
  • Acessos administrativos compartilhados e sem rastreabilidade.
  • Antivírus instalados, mas desatualizados — ou desativados.
  • Nenhuma política formal de backup, atualização ou resposta a incidentes.

Apesar disso, a percepção da liderança era de que “nada de grave tinha acontecido até agora”. Um falso senso de segurança alimentado pela sorte — e pela ausência de visibilidade.

🔄 O processo de transformação

Com apoio da diretoria, iniciamos um processo de reestruturação que envolveu cinco frentes principais:

  1. Mapeamento de ativos e riscos
    Criamos um inventário funcional e classificamos os ativos conforme criticidade e impacto ao negócio. A simples visualização dos dados já foi um choque de realidade.
  2. Priorização e planejamento
    Organizar o caos exige saber por onde começar. Estruturamos um plano em ondas, priorizando ações com maior relação risco-custo-benefício. O objetivo não era “perfeição”, mas consistência.
  3. Definição de governança
    Nomeamos responsáveis por cada frente de segurança, criamos fluxos mínimos para mudanças e acessos, e começamos a documentar decisões. Nada sofisticado: o essencial bem feito.
  4. Indicadores e visibilidade
    Começamos a medir o que antes era invisível: tentativas de acesso, falhas críticas, tempo de correção, frequência de backups, etc. Isso ajudou a mostrar avanços concretos ao longo do tempo.
  5. Educação e mudança cultural
    Talvez o ponto mais difícil. Segurança exige mudança de comportamento — e isso só acontece com diálogo, exemplos e disciplina. Implantamos ações de sensibilização adaptadas à realidade da empresa, evitando o tom punitivo.

📈 Resultados reais, sustentáveis

Nenhuma dessas empresas se transformou da noite para o dia. Mas todas deixaram de operar no escuro. Aprenderam que prevenir é mais barato e menos traumático do que reagir. E que improvisar pode custar muito mais caro do que estruturar minimamente.

Mais do que implementar controles, meu papel foi atuar como facilitador de consciência. Mostrar que Segurança da Informação não é um fim, mas um meio de garantir continuidade, confiabilidade e crescimento com responsabilidade.

🧠 Lições que ficam

  1. Toda empresa, em algum grau, começa improvisando. Mas há um limite até onde isso é sustentável.
  2. A maturidade em segurança começa com estrutura, não com tecnologia.
  3. Sem visibilidade, não há gestão — e sem gestão, não há segurança.
  4. Processos simples, bem definidos, valem mais do que ferramentas sofisticadas sem uso.
  5. A mudança cultural é o verdadeiro termômetro da evolução.

Se você está enfrentando esse dilema hoje, saiba que é possível sair do improviso sem paralisar a operação. Mas é preciso reconhecer o problema, assumir a responsabilidade e iniciar o processo — mesmo que aos poucos.

Segurança não é urgência. É permanência.

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