No dia a dia corporativo, é comum que o tema “segurança da informação” só ganhe protagonismo após um incidente grave. Até lá, a sensação de normalidade impera — e, com ela, o risco silencioso de uma cultura organizacional imatura, que ignora sinais importantes. O problema? Quando esses sinais finalmente se tornam visíveis, o dano já está feito — e o custo é muito mais alto do que se imagina.
O que é, afinal, maturidade em segurança?
Maturidade em SI não se limita à presença de controles ou à existência de um time técnico. Ela envolve a forma como a organização compreende, prioriza e incorpora a segurança em seus processos, decisões e comportamentos.
Empresas maduras possuem:
- Processos bem definidos e formalizados;
- Indicadores que medem risco e performance em segurança;
- Envolvimento de áreas de negócio na tomada de decisão;
- Governança integrada com outras frentes críticas (como risco, compliance e continuidade);
- Cultura que valoriza a prevenção, não apenas a reação.
Em contrapartida, empresas imaturas muitas vezes mantêm uma “fachada de controle”: ferramentas existem, mas são subutilizadas; políticas são genéricas, não aplicadas; o time de SI é acionado tarde demais, geralmente no apagar das luzes de um projeto.
Os sinais estão aí — mas são ignorados
A baixa maturidade se manifesta em pequenos comportamentos rotineiros, que são frequentemente tratados como “normais”:
- Compartilhamento de senhas entre colegas, via e-mail ou chat;
- Dispositivos pessoais conectados a ambientes corporativos sem qualquer controle;
- Ausência de inventário atualizado de ativos de TI;
- Soluções SaaS contratadas diretamente por áreas de negócio, sem avaliação de riscos;
- Projetos lançados em produção sem revisão de segurança;
- Falta de métricas claras, como MTTR (tempo médio de resposta a incidentes), número de ativos críticos protegidos ou cobertura de backup;
- Desconhecimento sobre obrigações legais e regulatórias, como a LGPD.
Esses sinais não são pontuais. São sintomas crônicos de um ecossistema despreparado para lidar com um incidente real.
O custo invisível se acumula

Ignorar esses sinais não significa que o risco desapareceu — apenas que ele não é mensurado.
E esse é o ponto central: a ausência de incidentes não é sinônimo de segurança. Pelo contrário, pode indicar apenas que o problema ainda não emergiu. Enquanto isso, os custos invisíveis se acumulam:
- Tempo perdido com retrabalho, ajustes de última hora e investigações de causa raiz que poderiam ter sido evitadas com uma abordagem preventiva;
- Exposição jurídica, especialmente em setores regulados;
- Desconfiança interna, com áreas que passam a ver a SI como um “entrave”, não como uma aliada;
- Cultura de complacência, onde o “jeitinho” vira norma e boas práticas são vistas como burocracia.
E quando o incidente finalmente ocorre — seja um vazamento de dados, uma fraude interna ou um ransomware — o impacto é multiplicado pela falta de preparo: não há plano de resposta, não há processo de comunicação, não há clareza sobre responsabilidades.
Cultura é o ponto de inflexão
Não há maturidade sem cultura. O verdadeiro diferencial entre uma empresa resiliente e uma vulnerável está na forma como seus líderes e colaboradores pensam e agem em relação à segurança.
Empresas com cultura madura:
- Integram a segurança desde o início dos projetos;
- Premiam comportamentos seguros;
- Têm líderes que dão o exemplo (sim, isso inclui não anotar a senha no post-it);
- Discutem riscos de forma aberta e transparente;
- Investem em treinamento contínuo, mas contextualizado com a realidade da empresa.
Essa cultura não se constrói da noite para o dia. Requer:
- Diagnóstico realista do estado atual;
- Plano de evolução com metas claras;
- Engajamento do topo da organização;
- Comunicação clara, recorrente e alinhada ao negócio.
Investir em maturidade reduz o custo total da segurança
Pode parecer contraintuitivo, mas quanto mais madura é a empresa, menor tende a ser o custo total da segurança no longo prazo.
Isso ocorre porque:
- Há menos retrabalho e incidentes evitáveis;
- Os investimentos são direcionados com base em riscos reais (não em modismos);
- A equipe consegue atuar de forma estratégica, e não apenas apagando incêndios;
- A reputação da empresa é preservada, evitando perdas intangíveis, como confiança de clientes e parceiros.
Além disso, empresas com alta maturidade estão mais bem posicionadas para responder a exigências de mercado, certificações, auditorias e regulamentações.
Conclusão: a maturidade é invisível — até deixar de ser
A baixa maturidade em SI é como uma infiltração silenciosa: você não vê, não sente cheiro, mas ela está corroendo a estrutura. Quando a parede cede, é tarde demais para medidas paliativas.

Ignorar os sinais é uma escolha, é como ignorar o elefante no meio da sala.
Mas o custo dessa escolha — financeiro, reputacional e operacional — costuma ser muito maior do que o investimento necessário para evoluir.
A pergunta não é mais “vale a pena investir em maturidade de segurança?”.
A pergunta real é: o que sua empresa ainda está ignorando hoje — que pode custar caro amanhã?